sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Saindo do papel

Mergulhar nas cores, brincando com as transparências, mesclando pigmentos, flores, raizes com as mãos, com água pura, fervendo ou não. Como se fossem poções mágicas... são momentos prazerosos, que me desligam do mundo real.

Já fiz isso com lã de carneiro que ia buscar nos montes mais altos de Minas Gerais, para depois de cardada e fiada, começar o processo de tingimento, com casca de pinhão, macela, ia parar nas tramas do meu tear.
Sinto saudade destas emoções vividas há algum tempo.
Mas com tudo na minha vida  acontece como dentro de uma mandala, organizada, sincronizada, interligada, hoje estou pintando no tecido e não mais, como antigamente quando meus desenhos viravam estamparia na seda.

Por ser praticamente “bio” ou “orgânica”, prefiro pintar no algodão puro, seja ele rústico ou mais delicado. Assim nasceram tantas criações como sacolas, aventais, almofadas, abajours, túnicas e agora essas saias, que servem para qualquer idade ou tamanho. 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Amanheceu o dia. Chove, não chove?

Adoro quando isto acontece, o tempo fica suspenso no ar, a nostalgia presente permite que a imaginação viaje e, assim do nada, saem figuras que me agradam.




Elas irão dormir nas minhas caixas e gavetas e um dia voltarão às minhas mãos para algo maior, talvez.

Um presente (Janeiro 2011)

O ciclo da Natureza presenteou meu dia com o nascimento das flores da minha orchidea no jardim.
Perto dela esta se formando uma teia de aranha.


Quando nascer a bromélia, que por enquanto está dormindo na árvore, eu vou presentear meus amigos , fãs dela com uma série que pintei muito tempo atrás.


Ilustração (Dezembro 2010)

É o máximo poder  ilustrar o que a gente escreve. O raciocínio fica completo.

Às vezes faço o contrário: desenho e, por cima, eu crio a história; não tem uma ordem, vai conforme a imaginação.

Onde encontro mais prazer é sem dúvida no universo infantil, não importa a idade;  a ilustração neste caso, proporciona maior possibilidade de viajar no tempo certo de cada criança ou adolescente. Mas quando a gente vê seu livro ser transformado em peça de teatro e, assim, acompanhar a alegria de uma criança, aí não dá para descrever tal emoção... foi o caso da Zizi, a Arteira. Que aventura! Um dia eu conto esta história.

Por isso eu gosto de tudo o que é papel, não importa qual seja.

Entre telas e papéis (Novembro 2010)

Aquarela Papel de Arroz
Os dois fazem parte do meu universo desde sempre.

Eu comparo a tela a uma locomotiva,  é a Idéia-mãe, a matriz, a criação; é aquela que vai arrastar todos os vagões, seja a sequência para formar o todo, seja o conjunto de idéias, em geral sincronizadas . Quando chega ao trigésimo vagão, ou no último engate, a ”fonte” se esgota e, então,  abandono esse trilho, para embarcar em outra estação.

Durante duas décadas vivi neste ritmo alucinante, colhendo prazeres, decepções. Pelo fato de não gostar muito de “me” expor, acabei mergulhando nos papéis, que nunca me abandonaram.
Aquarela Gramatura Grossa
Desde  criança nunca pude ver uma folha em branco perto de mim sem rabiscá- la, chega a ser compulsivo.
Quando resolvo fazer uma limpeza nas minhas coisas é de ficar assustada comigo mesmo: jogo, não jogo...
Acho que todo artista é assim mesmo... organizado na cabeça, mas não na ação... ou o contrário...
Mas uma coisa eu sei: entre papel e tela, o papel é a minha realização.


O papel, seja para aquarela, desenho, croquis, de gramatura fina, grossa, até papel de arroz, reciclado, não importa qual seja, é sem dúvida a “minha praia”.

O papel nos dá a opção de brincar com lápis, nanquim, pastel, aquarela, pigmentos, carvão, acrílico, etc... e o mais importante: conforme o humor do dia.

Prefiro dizer humor a astral, porque ele varia mais rápido.
E por pensar rápido e desenhar rápido, “humor”  se adapta melhor a mim.
Talvez um dia, quando minha cabeça pensar mais lentamente, poderei me dar  o luxo de ir devagar, devagarzinho... e  aí, então, irei em busca do astral .

Hoje, estou com novas idéias (Outubro 2010)

Tantas flores estão caindo, fazendo das calçadas verdadeiros tapetes coloridos, passando do amarelo dos ipês, do lilás dos manacás, dos rosa dos rododendros, que decidi passear com minha netinha para colher algumas destas preciosidades.

E que maravilha, ainda ganhamos de brinde sementes inusitadas nos parques por onde andamos.
O que vou fazer com elas ainda não sei, mas com certeza uma criação haverá de surgir.

Alguns dos meus estudos com sementes tropicais típicas do Brasil
O universo das sementes sempre me fascinou.
Já brinquei de estudá-las e remexendo desenhos e estudos antigos, olhe o que achei:
Criar é saber, antes de tudo, observar.
Das mínimas curiosidades podem ser descobertos verdadeiros tesouros da Natureza.
Infelizmente, as pessoas  andam, correm sem perceber o que as circundam.
Sinto falta das minhas caminhadas no mato .
É tão bom ter amigos que compartilhem estas mesmas emoções!
É como um balsámo para um dia feliz...
As flores vão secar, trocando sua cor original por outra mais delicada e misteriosa, sabe aquela cor que só o tempo sabe dar.  Aquele ton “fané”, dos tafetás antigos. Minhas fadas adoram.

Voltanto no tempo (Setembro 2010)

Uma pausa no meu trabalho.Hoje eu me dou folga.
Adoro recuperar lembranças nos meus cadernos antigos.
Voltei no tempo com minhas primeiras baianas; foram tantas que dançaram ao som do berimbau nos meus papéis, que perdi a conta de quantas já se foram longe para de mim nas mãos de amigos, familiares, clientes...
Estou animada para que estas figuras simpáticas saiam das gavetas e olhem para meus novos estudos.
Hoje vão ser chamadas de “minhas gordinhas”, minhas “fofuchas”.
As grávidas tambem fazem parte de uma nova série que vão desfilar por aí; afinal há tantos anos que elas me acompanham, é hora de elas proliferarem.

Baianas (Kennedy)
 Minhas primeiras baianas em 1972, saíram do papel para as tapeçarias.

Naquela época, quem fazia sucesso na Bahia era o Kennedy que deixou um belo legado para o Brasil. Descobri o blog de Thais Losso que prestou uma linda homenagem aos trabalhos dele.

Em 1973, cheguei a receber um seu telefonema, achando  bonitas as formas finas atribuídas às minhas baianas: “elas têm movimento, continue assim.” Eu era jovem e essas poucas palavras me incentivaram a ir em frente.

Nos anos 70 a tapeçaria era a grande moda. Elas decoravam embaixadas, bancos, restaurantes, residências particulares, restaurantes, grandes espaços... Quem também revolucionou e especialmente redemensionou esta linguagem, foram Norbeto Nicola e Jacques Douchez, que acabei encontrando numa expo no México nos anos 70. O abstrato, na trama e nos fios caídos por si só, revolucionava esta arte.

Contratavam-se equipes de bordadeiras. Pontos novos surgiam entre eles o famoso “ponto brasileiro” da Madeleine Colaço, nascida em Tanger, outra grande dama da tapeçaria.

Bons tempos, onde havia galerias de arte em cada quadra dos “jardins” em São Paulo!

Acervo esboço particular do Sr. Bozzano, presidente do Banco Bozzano (1972)
e Tapeçaria Nicole K. do Restaurant La Casserole, Largo do Arouche